Estudando-A luta de classes e suas mutações.



"Luta de classes", um conflito proveniente do processo civilizatório da sociedade humana que radica na lógica do poder econômico, obtido por uma parcela da sociedade se sobrepondo a outra com a pratica da exploração de suas atividades produtivas físico intelectuais.

Confronto este, que no andar dos tempos foi se consolidando diante os sistemas de opressão como uns dos pontos máximos de uma tragédia ainda sem resolver e de futuras e imprevisíveis consequências.

A definição "Luta de Classes" começa a ser compreendida como tal, de forma sólida e universal, na transformação do sistema produtivo medieval, que na sua evolução tecnológica, inaugura o modelo de produção capitalista (século XVIII).

Este evento pode ser considerado como um elemento radical, que expôs desde suas contradições a luz da consciência histórica das sociedades o valor da força de trabalho, submetida aos regimes de dependência  assalariados, como a única geradora das riquezas produzidas, a benefício de quem ostenta os poderes.

O que produziria, de forma inevitável, uma identidade na classe explorada, apontado a construção da consciência crítica fundamentada pelos pensadores do materialismo dialético (Marx, Engels) e o materialismo social com a dialética da ação (Bakunin) ( Século XIX), se instalando em posição de combate diante os pensamentos predominantes, provenientes da filosofia do Idealismo e o materialismo científico, como ordens absolutas do pensamento ocidental e seus territórios colonizados.

A Revolução Francesa (1789) com o levante dos setores camponeses contra as Monarquias feudais e suas Aristocracias, junto ao surgimento da figura do operário (Trabalhador) da revolução industrial (assalariado) concentrado nas regiões urbanas, se constituem numa síntese da formatação histórica entre oprimidos e opressores.

Episódio transcendental que abre passo as interpretações no contexto ideológico, expostas desde os setores oprimidos, por modelos de resistência organizativos (Sindicatos) e teses intencionadas em extinguir o desequilíbrio socioeconômico e suas ferramentas alienantes de profunda dominação religiosa, entre exploradores e explorados.

A revolução do liberalismo (1848) na França e a ascensão da Burguesia substituindo as decadentes monarquias do absolutismo Mediterrâneo, darão passo a um novo modelo de República a que abriria as portas a uma sequência de eventos por toda Europa, denominados de "A Primavera dos Povos".

Momento propício no meio do desenvolvimento da Revolução Industrial, em que o debate instalado nas massas proletárias e suas organizações sindicais facilitaram para que Marx e Engels  lançarem o manifesto Comunista.e a Tese da "Ditadura do proletariado".

No entanto, do setor Libertário Pierre Joseph Proudhon chegaria com a proposta da organização dos Trabalhadores em um sistema Federalista de classe a nível mundial ("Ideia geral de revolução no século XIX")a qual impediria o desenvolvimento das nascentes estruturas centralizantes do estado Burguês, com sua inevitável extinção.Pensamento que conto com a participação ativa de Bakunin desde a Comuna de Lyon.

Ideias que em 1871 desenvolveram um rol fundamental nas organizações sociais e operárias para a experiência de um governo popular na toma da Comuna de Paris:

O trabalho noturno foi abolido; Oficinas que estavam fechadas foram reabertas para que cooperativas fossem instaladas; Residências vazias foram desapropriadas e ocupadas; Em cada residência oficial foi instalado um comitê para organizar a ocupação de moradias; Todas os descontos em salário foram abolidos; A jornada de trabalho foi reduzida, e chegou-se a propor a jornada de oito horas; Os sindicatos foram legalizados; Instituiu-se a igualdade entre os sexos; Projetou-se a autogestão das fábricas (mas não foi possível implantá-la); O monopólio da lei pelos advogados, o juramento judicial e os honorários foram abolidos;Testamentos, adoções e a contratação de advogados se tornaram gratuitos;O casamento se tornou gratuito e simplificado; A pena de morte foi abolida; O cargo de juiz se tornou eletivo; calendário revolucionário foi novamente adotado; O Estado e a Igreja foram separados; a Igreja deixou de ser subvencionada pelo Estado e os espólios sem herdeiros passaram a ser confiscados pelo Estado; A educação se tornou gratuita, laica e compulsória. Escolas noturnas foram criadas e todas as escolas passaram a ser de frequência mista; Imagens santas foram derretidas e sociedades de discussão foram adotadas nas Igrejas; A Igreja de Brea, erguida em memória de um dos homens envolvidos na repressão da Revolução de 1848, foi demolida. O confessionário de Luís XVI e a coluna Vendôme também; Bandeira Vermelha foi adotada como símbolo da Unidade Federal da Humanidade; O internacionalismo foi posto em prática: o fato de ser estrangeiro se tornou irrelevante. Os integrantes da Comuna incluíam belgas, italianos, poloneses, húngaros; Instituiu-se um escritório central de imprensa; Emitiu-se um apelo à Associação Internacional dos Trabalhadores; O serviço militar obrigatório e o exército regular foram abolidos; Todas as finanças foram reorganizadas, incluindo os correios, a assistência pública e os telégrafos; Havia um plano para a rotação de trabalhadores; Considerou-se instituir uma Escola Nacional de Serviço Público, da qual a atual ENA francesa é uma cópia; Os artistas passaram a autogestionar os teatros e editoras; O salário dos professores foi duplicado.

O Século XX foi a demostração no seus começos do enraizamento da consciência da luta de classes com potencial continental, esta vez organizada partindo dos territórios colonizados da América Latina e se pronunciando desde a Revolução Mexicana com Emiliano Zapata e Pancho Villa (México 1910), que em um diferente contexto organizativo e histórico é prosseguida no continente Euro-asiático pela Revolução Russa (1917).

Daí em mais, a polarização ideológica entre Capitalistas e anticapitalistas  impulsa o debate nos setores das esquerdas mundiais, que materializam o conceito da luta de classes como a máxima expressão de seus objetivos ideológicos, concentrando suas forças nas organizações sociais e sindicais, com o fim de massificar suas teses anticapitalistas em prol de um período pré Revolucionário.

Os primeiros resultados tiveram um sinal marcante de 1936 a 1939 nos acontecimento da Revolução Espanhola, que ressalta heroicamente na complexidade da antessala anunciada da Segunda Guerra Mundial com o avanço do Fascismo na Europa, o potencial da auto-organização popular e sindical numa ação direta demonstrativa da Luta clasista, partindo da Autogestão Autônoma libertária, aplicada nas áreas sociais, produtivas e militares, a qual apesar de sua breve atuação regional, marcou diante o universo histórico das categorias oprimidas as diferenças reais entre as teses propostas no campo do socialismo anticapitalista.

Este conflito (G.M.) que estremeceu o planeta (1939-1945) é considerado o epicentro das disputas hegemônicas Século XX entre as potências com maior desenvolvimento econômico e tecnológico, tentando impor suas versões ideológicas, com o fim de ampliar os domínios territoriais, os quais  futuramente proporcionarão as fontes de crescimento das matrizes energéticas, garantindo a
expansão tática de suas estratégias comerciais, militares e tecnológicas.

O que devemos considerar é que ou que estava em disputa era o controle hegemônico do modelo capitalista e não a absolução do mesmo por algumas das partes, como foi apontado e demonstrado pelas organizações Libertárias na Revolução Espanhola.     

Os resultados desta contenda mundial e seus efeitos, se manifestaram nas próximas décadas com o retrocesso do Anticapitalismo ideológico, influindo no declive massificador do conceitual polarizante da Luta de Classes, o que seria confirmado em 1989 com o fim da Guerra Fria (queda do muro de Berlim).

Em Latino-América, receptor imediato da linha ascendente do socialismo URSS, acrescentada pela fundação da República Popular da China (1949, Mao Tsé Tung) logra a síntese em 1959 com a  Revolução Cubana, que partindo de seu conteúdo ideológico Marxista Leninista atua como uma resposta regional de vanguarda no marco das lutas do classismo sindical.

Conjuntura que origina a oxigenação das esquerdas continentais, que rapidamente se organizam aprofundando as contradições interpretativas entre as vertentes Libertárias e do Marxismo institucionalizado pró URSS,  escoriantes até por dentro de suas próprias fileiras.

Conflito este de esvaziamento que termina se evidenciando de forma política no processo da onda repressiva ditatorial programática iniciada na década dos anos 60, executada pelos estados com o apoio do Imperialismo Norte-americano  diante as propostas da ação direta revolucionária, exemplo a luta do Che Guevara, entre outras organizações portadoras de um conteúdo crescente do sentimento da construção da identidade latino-americana.


Este período de totalitarismos por Latino-América conseguiram seus objetivos de interromper o trânsito evolutivo das esquerdas revolucionárias, exterminando a geração combativa, cortando o vínculo de formação e comunicação geracional.

O ressurgimento das neo esquerdas a partir da década de 80, no processo pós ditadura, já denotam a perda de princípios ideológicos transformadores, apostando ao cenário institucional, claramente reformista e conciliatório, além da oposição de grupos minoritários de propostas teóricas revolucionárias que foram traduzidos até de forma criminalizante pelos institucionalizados, diante a sociedade inexpressiva ideologicamente, os colocando na galeria dos radicais.

Esta inclinação reformista, por parte das neo esquerdas, em poucas décadas conseguiu se consolidar no topo dos poderes institucionais, substituindo o discurso de classe, introduzindo-se nas estruturas do estado liberal, acatando conciliativamente as regras do jogo impostas pelo interesses e funcionalidades históricas de suas democracias.
Este modelo esgrimido baixo a orquestração da figura do Populismo arrasta notavelmente os seguimentos sindicais e sociais, que reproduzem-se nas suas áreas de atuação, nos mesmos parâmetros, diante as históricas patronais nacionais e corporativistas internacionais.
 
Século XXI, dias atuais, este quadro aqui observado confirma a profundidade da crise dos princípios que argumentavam a Luta de Classes, possibilitando e facilitando o avanço do conservadorismo liberal oportunizado pelo Capitalismo, versão neoliberal globalizante, o qual vai reduzindo a mínima expressão, os pensamentos transformadores anticapitalistas, bem distantes de ser assumidos pela neo esquerda institucional populista.

Cenário facilitador a ação repressiva por parte do estado, identificando os grupos sociais, étnicos e sindicais insurrecionais que transgridam os limites da ordem institucional.

Estas "Democracias" do continuísmo estrutural Liberal em trânsito ao neoliberalismo são marcadas de "esquerda"a direita por propostas administrativas e métodos burocráticos, a um abismo das mudanças da estruturais, mantendo as injustiças sociais em menor ou maior grau, sempre submetidas a ordem imposta pelos setores hegemônicos do corporativismo transnacional e os requerimentos do sistema de financeirização globalizada.

Que queremos anunciar como tudo isto?

 Queremos dizer que os processos eleitorais são como sempre foram, e hoje de maneira mais acentuada, um fato circunstancial irrelevante para o tamanho das injustiças provocadas pelo estado e suas Democracias, e que com ou sem "messias" não se irá deter aos "Lestrigões" do neoliberalismo, que seguirão engolindo os rebanhos impunemente.

 A ausência de oposição crítica estrutural dos pastores da neo esquerda institucionalizada e suas categorias próximas, posicionadas no acomodo e o efeito amortecedor, administrando as atrocidades históricas, desde o menos pior, só nos auguram um futuro para os de baixo de contumazes resistências.
Nossa esperança vai além de poder ver no horizonte os povos oprimidos rompendo esse círculo retroalimentador vicioso, que não conduz a lugar nenhum, tomando a consciência do coletivismo social, refundando os princípios da luta de classes e o anticapitalismo, baixo as bandeiras do Poder Popular Libertário e Autogestionário.
Uma opção fundada partindo da Democracia direta, que aponte desde sua diversidade cultural e política ao consenso, como sinal evolutivo de uma sociedade sem oprimidos nem opressores, onde o bem
comum seja a máxima aspiração, nos beneficiando com a dignidade da merecida emancipação classista.
A qual abraçará também os postergados direitos reparativos da Autodeterminação étnica, como irmãos históricos, submetidos a esta tragédia irracional.






     






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