A "intervenção" no Rio de Janeiro




Uma ação que deixa ao desnudo uma realidade que durante décadas tentou ser dissimulada no artifício
da política institucional pós ditadura e chegado o ano 2003 por remanescentes das esquerdas de outras horas, ajudando a desconstruir e criminalizar os pequenos focos de resistência, que seguiam exigindo a desmilitarização do aparato repressivo estruturado neste período. O qual garantiu também, para estes, a ordem de seus governos dentro do quadro histórico da formalidade tradicional repressiva, com a anuência e conceito da mesma "Justiça" de hoje, anti popular e seletiva, a que foi demostrada em vários conflitos fundiários campo-cidade e Étnicos em seus períodos de Governos, mostrando-se com seu ápice referencial nas mobilizações do ano 2013.
Na ascensão do progressismo em 2003, o Mundo já estava numa mudança profunda, acelerada e como país produto do subdesenvolvimento Democrático e socioeconômico, foi dominado rapidamente pela sociedade do anseio ao consumismo do mercado Neoliberal, relegando o debate político estrutural a um plano secundário, alocando ao governo numa zona de conforto e de cegueira analítica por parte dos operadores da esquerda institucionalizada, que aderiram ao campo das conciliações com as classes dominantes, a câmbio de uma "pacificação" que trouxera investimentos tecnológicos, para a abertura de novos mercados mundiais baseados na política do produtivismo imposto. Daí em mais, se originou a criação de uma série de programas "bem" intencionados que correspondiam as carências históricas da
sociedade: Saúde, Educação, Cultura, Habitação, Gênero, DDHH, étnicos etc. Este contexto de reformas socioeconômicas epidérmicas que abrangeram setores populosos da sociedade, em nenhum momento puderam sair do controle dos interesses econômicos e políticos das elites dominantes, que lucraram e cresceram de forma confortável, sem resistências notáveis, provenientes dos setores dos movimentos sociais campo-cidade, orientados pela política do populismo reinante, e que com o tempo desintegraram suas bases pelo retiro e abandono das categorias históricas militantes, alucinadas pelo projeto de ascensão ao poder institucional e econômico. Vácuo oportunizado rapidamente por setores evangélicos conservadores, do agronegócio e o crime organizado que conseguiram se reproduzir por dentro das estruturas corruptas dos poderes parlamentares.
O que deixou como saldo o desenvolvimento do Agronegócio, o aumento da especulação imobiliária, o fortalecimento representativo da política do conservadorismo institucionalizado, a legitimação infraestrutural dos aparatos repressivos e constitucionais e o domínio total da banca financeira nacional e internacional, sobre o destino das estruturas patrimoniais do estado, entre outros. Esta breve visão histórica não pretende ser abstraente do ponto fundamental, motivo de nossa verdadeira preocupação que é o grau permanente e culturalizante dos efeitos e os origem da injustiça social como um todo, no funcionamento da máquina do estado e suas estruturas centenárias de opressão e genocídio, aplicadas seletivamente as populações étnicas e periféricas urbanas.
Ela pretende demostrar, a partir desta ação do reforço no intervencionismo da força militar aplicada pelos poderes federais no Rio de Janeiro, a lógica histórica de estado Brasileiro, que para nada nos deveria assombrar ao demostrar uma vez mais seu caráter desafiante e hegemônico sobre as classes populares, por parte das elites dominantes. Exemplos de intervenção militar manifestados nos últimos 10 anos, entre outros, no Complexo do Alemão, da Maré e numa série de mega eventos corporativos.
 Pontualmente esta ação nos sugere, por tratar-se de uma decisão federal diferentemente das outras intervenções solicitadas pelo estado, a uma terceira fase da unidade consensual e tradicional entre as estruturas políticas, judiciárias e militares com um estado de exceção constitucionalizado por cima de qualquer instância "Democrática" numa demostração de força de imprevisíveis consequências.
Apesar de que seja manifestado pelos oposicionistas com uma leveza assombrosa, fruto da obediência aos limites sistêmicos e suas aspirações reincidentes ao poder, como um sinal de fraqueza política do Governo no congresso diante a votação da Reforma da Previdência e o caos administrativo da Governação do mesmo setor partidário no estado do Rio.
O que para nós merece um estado de atenção mais profunda, além da conjuntura institucional eleitoreira como também um ato válido, a ser considerado como uma demostração do alinhamento a onda do intervencionismo neoliberal imperialista norte americano na região Latino Americana, que mostra suas baterias ameaçantes no ataque sistêmico ao regime Venezuelano.
Em outras palavras, Rio de Janeiro, a "Cidade Maravilhosa" se transformou no Bode Expiatório de um planejamento programático a nível nacional e regional, para nós ainda indefinido, mas suspeitado.
2018 é ano de eleições que nos remete a pensar, para os de Baixo, na incerteza do futuro como historicamente aconteceu, mas esta vez sem uma oposição clara em suas propostas, que nos aventure a pensar na possibilidade de espaços que gerem a construção de uma luta popular, capaz de confrontar as elites posicionadas nas estruturas do Estado. O totalitarismo neoliberal com cara de Democracia tem poucas chances de não se instalar, diante a ausência de uma atitude de mudança radical no comportamento da neo esquerda institucional populista e seu caráter reformista conciliatório de fins eleitoreiros.
 



 

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